Texto de autoria do agente pastoral, graduado em Serviço Social e especializando em Teologia Cristã Contemporânea, Bruno Emílio Fonseca Moura
Acabamos de celebrar e ainda estamos em espírito jubilar pelos 300 anos de encontro da imagem da Senhora da Conceição, a Aparecida em nossas águas. A devoção mariana é muito forte em qualquer lugar, bem como não é diferente no Brasil a identificação da religiosidade, espiritualidade popular com a mensagem evangélica.
A pesca milagrosa, a corrente do escravo, a visão da menina, as velas da comunidade, o convertido cavaleiro foram os primeiro sinais de que do vale do Rio Paraíba do Sul se irradiaria a esperança e a justiça ao povo temente e tão castigado pela escravidão, pela política e a economia desde a ocupação.
A mãe negra se mostra ao país que mais tempo manteve o regime de escravidão e ainda sofre suas consequências, assim como se mostrou em Guadalupe no manifesto ícone da Senhora da América Latina, na clara expressão dos povos originários.
Aquela que o Magnificat cantou nos convida ainda a cantá-lo reatualizando tal mensagem em nosso contexto, cujo massacre continua no desamor/injustiça revestida da sobreposição do deus dinheiro ao ser humano – homens explorando homens; no domínio irresponsável dos bens naturais; na “globalização da indiferença”.
O canto de louvor e exaltação de Maria é de Libertação ativa Daquele que nos veio, e fé ativa de quem o recebe em seu seio. Libertação de um jeito de viver para outro que seja pleno para todos – uma revolução do amor.
Não se trata de uma livre ou tendenciosa interpretação, seu canto dos humildes vai ao encontro, ao coração do Sermão da Montanha (Mateus 5,7) e ao serviço do Reino: dando pão a que tem fome, água a quem tem sede, vestindo o nu, visitando doentes e encarcerados (Mateus 25).
Sempre os pequenos, humildes e pobres que em nossa razão são os últimos, na razão evangélica são os primeiros. Reatualizar esse ser e servir em nosso tempo, em nossa maneira de amar, lutar e organizar… Que fome, sede, que nudez, que enfermidade e prisão temos hoje? Não desconsiderando os que se encontram em literais privações, porém, indo além. Quem são os estrangeiros e as viúvas?
Não se pode minimizar a mensagem frente a tantos milagres que Deus nos concede pelo nome de Maria, a fé e as respostas de Deus não nos cabe, louvemos a Ele por isso. No entanto, é de se perguntar se cabe resposta nossa as graças? As extraordinárias e as quase imperceptíveis do dia a dia.
Para tal, a Senhora Aparecida continua a nos lembrar: “fazei tudo o que Ele vos disser”. E sua manifestação terá a constância mais percebida, experimentada e compartilhada.
Fazer o que Ele nos diz é um caminho a ser seguido, caminho que brota do coração. Peçamos, pois a graça de abrir os olhos do coração à mensagem da Boa Nova de Jesus Cristo, que também nos da no pão e no vinho, para sermos um pouco mais como Ele, como muitos homens e mulheres de fé conseguiram testemunhá-lo. E tudo isso passa pela fé com razão e, sobretudo, pelo coração.