Vocação Religiosa
Texto do padre José dos Passos da Siva, SJ
Ex-Pároco da Paróquia Santíssima Trindade
O mês de agosto é sempre lembrado na nossa Igreja como o mês das vocações. Já lembramos das vocações sacerdotais, familiares (na pessoa do pai) e hoje vamos falar sobre a vocação à Vida Religiosa.
Em nossa Paróquia temos a alegria de contar com homens e mulheres que se dedicaram a Deus por meio da vida religiosa. Os jesuítas, padres e irmãos, e atualmente as irmãs Escolápias, não nos esquecendo das Filhas de Jesus e da Providência de Gap, que aqui também viveram sua vocação no serviço e no amor.
Enraizar-se totalmente em Deus
A Vida Religiosa nasceu do confronto entre o desejo de viver radicalmente o Evangelho e a acomodação do Cristianismo como religião oficial do Império Romano. Até o século III, os cristãos viveram a perseguição do Estado.
Nesse tempo, houve muito martírio e grandes demonstrações de fé através de pequenas comunidades que viviam na clandestinidade com muitas pessoas testemunhando até a morte sua adesão ao Cristo.
A partir de 313, ser cristão deixou de ser um risco. A conversão ao Cristianismo passou a ser uma obrigação para ser cidadão e ocupar os cargos públicos. Uma vez que o Imperador se fez batizar, tornava-se necessário aderir ao Cristianismo para não ficar numa situação de “cidadão de segunda classe” e sofrer represálias.
A perseguição dá lugar à acomodação. A clandestinidade deixa lugar aos conchavos e conluios com os grandes e poderosos.
Nesse contexto, houve pessoas que percebiam que a nova situação social e política levava a um esmorecimento na vivência da fé. A Igreja, na sua concepção, havia se mundanizado ao ter sua vida facilitada pelas benesses do Imperador.
A fé foi cooptada e deixou de ser uma opção arriscada. Dessa compreensão, surge o movimento dos anacoretas formado por pessoas que desejavam “fugir do mundo”, abandonar a cidade e ir ao deserto para viver de novo a experiência original do Cristianismo.
Nesse movimento profético de denúncia da “mundanização da igreja” nasce a Vida Religiosa como o sopro do Espírito Santo para um retorno ao Evangelho na radicalização da vocação batismal.
Radicalizar significa valorizar as raízes, enfatizar aquilo que há de original. Nesse sentido, quando dizemos que a Vocação à Vida Religiosa é a radicalização do batismo, queremos dizer que a pessoa que deseja viver como religioso visa, primeiramente, viver intensamente sua vocação batismal.
Essa radicalização na Vida Religiosa vai ser expressa pelos votos de pobreza, castidade e obediência, vividos com outros que também desejam viver ao mesmo modo.
Os votos nada mais são que o desdobramento do desejo de consagração total a Deus que, de certa forma, decorrem da vocação batismal. Essa consagração é realizada dentro de uma família religiosa, que é a congregação ou ordem religiosa.
Na origem de toda congregação ou ordem religiosa existe o fundador, aquele que, por graça do Espírito Santo, em determinado momento da história, fez a experiência de Deus no encontro pessoal com Jesus Cristo.
Quem vive a experiência de encontro com o Senhor não consegue e nem pode ficar parado e passa a comunicar, com sua vida, palavras e atos tudo aquilo que o Senhor fez por ele.
Ao comunicar sua experiência, o fundador atrai outros que se identificam com o modo peculiar como Deus o chamou e desejam também passar a vida fazendo aquilo que o fundador vivenciou e fez.
Consagrar-se a Deus na vivência do Evangelho junto com outros é o ideal presente na Vida Religiosa e desde aí anunciar o Reino de Deus denunciando o que é contrário ao Evangelho.
As raízes permanecem bem fincadas e nos nossos dias a árvore continua a dar bons frutos.
Foto Capa e Ordenações: Clayton Henrique / Pascom